manzini

A primeira importação de um veículo da Europa para o Brasil ocorreu em 1893 e, em 1904, foi criado o exame para motoristas, segundo relatos históricos. De lá para cá, os veículos, assim como os itens de segurança, evoluíram muito. Na contramão disso, nós, seres humanos, evoluímos pouco na nossa forma de operar esses equipamentos em sua plenitude. Os veículos atualmente possuem mais tecnologias, estão mais seguros, confortáveis, eficazes, inclusive em relação a consumo e emissões. Mas saber utilizá-los completamente é algo a ser aprendido.

O número de acidentes no Brasil é uma demonstração do quanto precisamos evoluir em relação à forma de conduzir automóveis em nosso País. Somente em 2013, mais de 54 mil brasileiros perderam a vida devido a acidentes de trânsito. Se compararmos o tamanho dessa catástrofe à média de mortos por ano com a Guerra do Vietnã (40 mil) e a Guerra dos Estados Unidos contra o Iraque (48 mil), estamos tratando de um cenário pior que o de uma guerra. Em outras palavras, perdemos mais de 150 pais, mães, filhos e cidadãos brasileiros que não retornam à suas casas ao final do dia.

Voltando a falar em evolução, muito foi feito em relação aos equipamentos pela indústria automobilística, ou ações foram tomadas para contribuir com a melhoria do comportamento dos condutores, como freios ABS, air bag, sistemas de controle de estabilidade, e, por outro lado, multas mais caras e punições mais pesadas. Mas a redução dos acidentes está longe de ser a desejada.

Alguns estudiosos defendem que estamos regredindo na forma de dirigir, devido a uma autoestima exagerada, pela falta de conhecimento dos próprios limites, das máquinas e das condições externas. As pessoas pensam ou querem mostrar que já sabem tudo e acabam esquecendo-se de premissas básicas para poder manusear os equipamentos com segurança.

É preciso criar uma consciência de segurança nas pessoas em relação ao ato de dirigir e prepará-las para as situações críticas do trânsito. Afinal, como podemos cobrar alguém, se não o ensinamos a fazer o trabalho corretamente?

Para um condutor se formar no Brasil, são necessárias 25 horas/aula, e o foco do treinamento é passar em um exame que consiste em uma volta no quarteirão. O recém-habilitado tem a permissão de guiar qualquer tipo de automóvel, com qualquer potência e tecnologia, seja em ruas ou estradas, e em qualquer circunstância climática ou de visibilidade.

Enquanto isso, em países como a Austrália, é necessário mais de 120 horas/aula, na França, 90, e na Alemanha, 80, para que então o recém-habilitado tenha a permissão para dirigir. Mas qual a diferença que isso faz?

A diferença é a taxa de mortalidade causada pelo trânsito, que, nesses países, são 5.2, 4.9 e 4.3, respectivamente, para cada 100 mil habitantes, enquanto que, em nosso País, estamos falando de 22.5 para cada 100 mil brasileiros que morrem anualmente.

Guiar bem, guiar seguro e guiar rápido não são invenções, são interações. O carro é um equipamento mecânico, que serve para nos levar e trazer, com segurança e prazer. Esse prazer só é possível quando se tem o domínio da máquina. Ensinar um condutor já habilitado a ter domínio da máquina e dirigir de maneira segura e defensiva é um trabalho para especialistas, requer competências específicas, técnicas, conhecimentos e experiências daqueles que instruem. É uma irresponsabilidade acreditar que qualquer pessoa pode instruir outros condutores a ter este domínio.

Existe ainda pouco esclarecimento a respeito das diferenças entre “direção segura ou preventiva” e a “direção defensiva”, que, na prática, são de grande importância na forma de condução de todos os motoristas. A direção ou pilotagem preventiva é o conjunto de medidas e procedimentos utilizados para prevenir os acidentes de trânsito. Trata-se de prevenir um acidente com o simples ato de observar, entender e agir com o ambiente em que você e seu veículo estão inseridos naquele momento. Como exemplos, podemos citar o motorista que, ao avistar crianças brincando na calçada, reduz a velocidade e fica atento à possibilidade de ter que frear bruscamente ou desviar por uma criança que corre para a rua. Ou ainda, o simples fato de avistar um semáforo fechado à frente, e o condutor desacelera o veículo e freia suavemente, contribuindo para o ecodrive.

Como diriam nossos avós, prevenir é sempre melhor que remediar, então direção preventiva deve ser o foco da condução, e a direção defensiva atua nas situações emergenciais. Enquanto a primeira também contribui para a redução no consumo de combustível, óleo do motor, pastilhas de freio e pneus, a segunda visa somente a segurança e a preservação da vida em atitudes condicionadas que somente um condutor exposto a treinamento prático (que em seu escopo deve constar frenagem de emergência, sendo esta proibida em vias públicas) é capaz de realizar.

Muitos equipamentos de segurança existem para minimizar os riscos de acidentes de trânsito, e, além deles, outros vêm sendo utilizados mais constantemente, como é o caso da coleta de dados. Isso é muito válido, mas que precisa ser visto como uma ferramenta do plano de gestão eficiente, do qual devem fazer parte o treinamento e o feedback. Apenas dessa forma, a ferramenta de avaliação contribui com a medição desses resultados. É preciso criar uma consciência de segurança nas pessoas em relação ao ato de dirigir e prepará-las para as situações críticas do trânsito. Afinal, como podemos cobrar alguém, se não o ensinamos a fazer o trabalho corretamente?

Ensinar um condutor já habilitado a ter domínio da máquina e dirigir de maneira segura e defensiva é um trabalho para especialistas, que requer competências específicas e experiência

Dirigir defensiva e preventivamente não são ações com fim em si mesmas, mas algo cuja interação está diretamente envolvida com os pilares da sustentabilidade:

No pilar econômico, na redução de consumo de combustível, pneus, redução de custos de manutenção, despesas com acidentes;
No pilar ambiental, a redução de consumo de combustível e outros componentes dos veículos contribuem para a redução de emissão de poluentes e para o meio ambiente;
E no pilar social, contribuímos na formação de condutores responsáveis e conscientes de seus atos, evitando acidentes e salvando vidas.

Quantas pessoas de sua empresa usam veículos para executar as atividades diárias? Quantos usam o carro simplesmente para ir e vir ao trabalho? Quantas usam seus veículos apenas em finais de semana? Todos são importantes e estão expostos aos riscos do trânsito, mas quantos foram realmente treinados de maneira adequada para estarem expostos a esses riscos?

Se você leu este artigo até aqui, percebeu que não há respostas para muitas dessas perguntas. Está na hora de começar a treinar seus funcionários para a direção segura, preventiva e defensiva.

Roberto Manzini
Presidente do Centro Pilotagem Roberto Manzini